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Testemunho

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Lá se vai mais de década de serviço institucional. É muito, ao menos para mim. Mas é nada,  quando comparado esse tempo à milenar atividade da advocacia mundo afora, sua secular instituição no continente americano e no Brasil, ou mesmo diante da octogenária entidade que nos congrega. Mas já deu pra eu ver e testemunhar bastantes e consideráveis coisas, estou convicto.

Hoje rememoro, em especial, as solenidades de investidura e habilitação dos até então bacharéis em Direito na condição de advogados(as), de que participei. Lembro da minha vez de receber a credencial profissional, como das inúmeras que conduzi, no exercício da Presidência a que fui galgado por três vezes, por generosidade dos meus colegas, ao que e a quem agradeço comovidamente todos os dias.

Na minha vez, o ato foi simplório, de poucas gentes presente, até mesmo pelas dimensões da nossa então sede. Éramos eu (na minha melhor roupa, no maior dos meus entusiasmos, na mais alegre das minhas felicidades, no mais real dos meus sonhos) e o presidente na oportunidade, para lhes ser mais específico. Trago tudo aqui, comigo, na memória coronária da vida.

Já as que presidi, de tempos para cá, igualmente marcantes, emocionantes até, pelo sem número de aspectos pretéritos que emergem naquele momento, solene e formal, repleto de público, este composto pelos pais, familiares de toda natureza e proximidade, esposas, filhos, companheiras e companheiros, namoradas, amigos, colegas de profissão. Alegria e alívio dos próprios novéis advogados e advogadas, como das pessoas ali seus acompanhantes, notórias testemunhas dos esforços acadêmicos de no mínimo cinco anos de preparação para o exame da OAB e, mais importante, para tutelar a honra, a dignidade, a saúde, a vida, a liberdade e o patrimônio dos brasileiros.

Eles e elas, tanto quanto eu e os que, idos ou ainda conosco, aqui no Brasil, invariavelmente, para se tornarem advogadas e advogados, em pé, diante de seu presidente, seus entes queridos e conterrâneos, com a mão e o braço direitos alçado à frente, em voz alta, a jurar, verbis: "prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da Justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas." Além de bradar tal compromisso público, cada advogado assinou termo escrito idêntico ao dito, este para todo o sempre sob a guarda da OAB, em seu arquivo histórico.

E assim prosseguimos, modo consensual como humana e democraticamente se concebe. Unanimidade, mesmo, só o fato de todos, repito, todos, terem,  espontaneamente, prometido o que ali em cima foi transcrito.

O senhor e a senhora devem estar se perguntando a propósito de como tal pode ter sido jurado, se hoje se observa homens e mulheres da advocacia bradando junto com a tênue massa inconsciente da sociedade por intervenção militar, AI-5, fechamento do Congresso Nacional e do STF, entre outras asneiras irrefletidas. Pois é, eu também me pergunto...

De cá, eu, chego a me perguntar mais, quando penso nestes: em que momento de suas vidas mentiram a seus compatriotas, seus entes queridos, seus colegas ou até a si mesmos? Quando prometeram e deram suas palavras (de honra?) e juraram defender a democracia e a Constituição, ou agora, navegando ao sabor confortável dos ventos?

Mas, imediatamente, deixo de lado essa preocupação. Afinal a palavra destes, como se vê, é volúvel e, portanto, ali na frente, pode retornar à razão.

Eu, e a imensa maioria da advocacia, manteremos nossas palavras, estas sim, de honra.


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